POSTADO POR CAROL LIMA | JD. SINHÁ
12/02/2021

Jovens marreteiros falam sobre desemprego e a rotina na pandemia

Desemprego entre a população da faixa etária de 18 a 24 anos cresce, diz estudo
Kaique vendedor de tênis, na porta da loja em que trabalha no centro de Itapevi
Kaique se tornou ambulante porque não conseguia emprego fixo. A venda de tênis tem ajudado muito. Sua rotina começa às 8h e vai até às 18h de segunda à sábado. Ele, que gosta de ser chamado de Caio (por conta do desenho animado dos anos 1990), conta que usa a estratégia de abordar as pessoas de acordo com a personalidade delas.

“Por exemplo, se [o cliente] é mais maloqueiro, eu falo mais maloqueiro, se for mais formal, eu tento me envolver do jeito que ela tá falando”, explica. Umas das maiores dificuldades em trabalhar na pandemia, diz ele, é o uso da máscara, pois ela atrapalha na hora de gritar. “Mas, é a proteção acima de tudo”, enfatiza.

Bem próximo ao trabalho de Kaique, na esquina de uma farmácia popular, está Renan Mescouto de Miranda, de 20 anos, vendendo máscaras. Trabalhando há poucos meses como ambulante, ele conta que o trabalho como vendedor na rua é importante na sua vida para adquirir experiência.

“Tem dias que eu saio de manhã cedo e só volto pra casa umas 18h, passo o dia trabalhando, vendendo máscaras”. Renan faz uso da simpatia para atrair clientes. “Prefiro na simpatia, sabe, abordar, perguntar, conversar com as pessoas, ter essa comunicação, de ver as pessoas chegando, passando, olhar no olho, mostrar o meu trabalho. Entendeu?”, explica.
Vendedor de Máscara em Itapevi, Renan aborda os cliente na simpatia.
Mãe solo e ambulante
As mulheres são as mais atingidas pela crise no mercado de trabalho durante a pandemia do novo coronavírus, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso porque, segundo o órgão, a participação da mulher no mercado de trabalho no país caiu ao menor índice em 30 anos.

No segundo trimestre deste ano, elas representaram 46,3% da força de trabalho. O índice considera as mulheres que trabalham e procuram emprego. É o menor número desde 1990.

Entre as mulheres que não conseguiram mais inserção no mercado de trabalho está Shirlei Regina Costa Silva, 26, moradora de Jandira, região metropolitana de São Paulo, que começou no comércio ambulante recentemente. Shirley ficou desempregada por conta da pandemia e, com ajuda do seguro-desemprego, comprou um carrinho de cachorro quente em que, hoje, vende uma variedade de produtos como pastéis, lanches e batata frita.

Mãe solo, Shirlei tem dois filhos, um de sete anos, e outro de três. “Esse momento está sendo uma nova experiência na minha vida. Nesse momento eu posso ter o dinheiro para os alimentos dos meus filhos, comprando as coisinhas que eles precisam”, detalha. Sem nenhum tipo de auxílio, nem Bolsa-Família, auxílio-emergencial ou pensão, a rotina com as vendas exige um esforço grande: são cerca de 12 horas por dia no trabalho.
Shirlei em sua barraquinha de lanches na Zona Oeste de São Paulo
Shopping Trem
Também em decorrência do desemprego, no vagão da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a jovem Luana Cherry Gomes da Silva, 23, vende de tudo um pouco: chocolates, fones ou carregadores, conciliando a maternidade com a vida de marreteira junto ao marido. “É o que enche minha barriga, é como eu ajudo minha mãe, sustento meu filho, e assim vai indo”, relata.

Também em decorrência do desemprego, no vagão da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a jovem Luana Cherry Gomes da Silva, 23, vende de tudo um pouco: chocolates, fones ou carregadores, conciliando a maternidade com a vida de marreteira junto ao marido. “É o que enche minha barriga, é como eu ajudo minha mãe, sustento meu filho, e assim vai indo”, relata.

Cherry explica que no trem a rotina é imprevisível. “Tem dia que você ganha, tem dia que você perde, tem dia que você vende muito. Eu acordo, vou pro trem, aí normalmente eu vou pra doceria quando vou vender doces, e quando vou vender outra coisa vou para o Centro de São Paulo pra pegar umas mercadorias mais eletrônicas e vou trabalhar”. No início da pandemia, conta ela, o trabalho só era possível no horário de almoço “porque todos os trens estão escoltados com os marronzinhos [como identificam os agentes de segurança da CPTM]”, explica.

Cherry foi uma das beneficiadas do auxílio emergencial destinado a pessoas de baixa renda durante a pandemia. “O auxílio ajudou, mas em partes, porque os alimentos aumentaram. Como é que a gente vai conseguir sobreviver só com R$600? Não tem como! Se uma conta de luz vem R$200,00, um arroz tá R$20 no mercado, entendeu? E como a gente não está conseguindo trabalhar direito por conta das pessoas que estão com medo de comprar, então tá difícil, mas a gente sempre dá um jeito, né? A gente é guerreiro, e a gente vai pra luta”, finaliza.

Essa reportagem foi produzida com o apoio da Énois Laboratório de Jornalismo, por meio do projeto Jornalismo e Território


Luana Cherry e o esposo, indo para estação de trem da CPTM
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