AS BRILHANTES COMPOSIÇÕES DO MESTRE WALLACE MORAIS
O fotógrafo e comunicador conta sobre sua experiência e crescimento profissional
Morador do Jardim Dona Sinha na Zona Leste, Wallace Morais de Souza, 34, é formado em comunicação social e design gráfico. Ele atua como fotojornalista e comunicador comunitário nas periferias de São Paulo.
Wallace sempre viveu em bairro humilde e de extrema vulnerabilidade social, mas isso não foi motivo para impedi-lo de trilhar seu próprio caminho. Este fator o impulsionou a buscar atividades que estivessem ligadas com a sua realidade. Estudante de escola pública, enxergou desde cedo o impacto que o ensino de qualidade tem na vida dos jovens de bairros pobres.
Por isso, atualmente é educador no centro social Nossa Senhora do Bom Parto, localizado na Zona Leste, e que funciona sem fins lucrativos. Em consonância, trabalha como capacitador profissional de jovens e adultos no CEDESP (Centro de Desenvolvimento Social e Produtivo) no Jardim Imperador em São Mateus. O fotojornalista ainda participa como coordenador de cobertura jornalística e informativa na Paróquia Nossa Senhora da Boa Esperança. Apesar de não ser formado em jornalismo, Wallace considera-se apaixonado pela área e acredita ter sido escolhido para fazer comunicação comunitária. Ele encontrou na fotografia o espaço para se expressar e dar voz para aqueles que antes estavam oprimidos.
Wallace Morais
Foto: Arquivo pessoal
FIGURAS NOTÁVEIS
O trabalho no “Vozes das Periferias” introduziu na vida de Wallace o jornalista César Gouveia, criador do projeto. Para ele, esta experiência trouxe aprendizado e abriu espaço para que pudesse se expressar por meio da comunicação.
Outra personalidade importante foi “Betinho casas novas”, um fotojornalista do Rio de Janeiro que ele conheceu em 2016 e que pertencia ao projeto “Vozes da Comunidade” no Complexo do Alemão. Betinho ensinava técnicas de fotografia e filmagem para o Wallace e incentivou o fotojornalista a exercer esta função ao dar o primeiro microfone que tinha utilizado no início de sua trajetória. A frase dita pelo fotógrafo carioca “vai lá, começa como eu comecei” ainda ecoa na mente do comunicador social paulistano que coloca diariamente em prática os ensinamentos adquiridos.
PAIXÃO PELO JORNALISMO E O GRITO DE SOCORRO DAS FAVELAS
O projeto “Vozes das Periferias”, que ajuda jovens e moradores das comunidades na Vila Prudente, conta com a participação de Wallace como professor de fotojornalismo. Ele acredita que esta ação foi um verdadeiro marco em sua vida, visto que a partir de então conseguiu, além de ensinar, conhecer as experiências de outras pessoas.
Desde a juventude, Wallace experimenta novas formas de comunicar. Hoje, o sonho que percorria o subconsciente se tornou real. O educador e mestre tem a oportunidade de capacitar novos sucessores por meio de projetos sociais. Até o momento, já conseguiu formar aproximadamente 10 turmas e pretende continuar a disseminar o seu dom.
Em entrevista, ele relembra quando em 2017 realizou a primeira entrega de jornais impressos na comunidade, na qual passou de casa em casa e pôde observar as pessoas identificarem suas próprias histórias naquele pequeno papel. Diferentemente do que ocorre na grande mídia, Wallace desfrutou da alegria daqueles moradores ao verem a favela retratada de forma positiva e não somente como um local marginalizado e dominado pelo crime.
O INSTANTE DECISIVO
O termo apresentado pelo pai do fotojornalismo Henri Cartier-Bresson (1908-2004) define o momento no qual acontece a união da técnica com a essência do fotógrafo. Wallace, quando indagado sobre seu “Instante Decisivo”, responde que durante uma ação realizada por um dos coletivos em que participava, observou como a fotografia é capaz de criar narrativas únicas e transformadoras.
O abismo social que separa a trajetória percorrida de Cartier-Bresson e o caminho ainda trilhado por Wallace é transposta diante da paixão e talento de ambos pela fotografia. O fotógrafo francês acreditava que“fotografar é colocar na mesma linha, a cabeça, o olho e o coração”. Já para o fotógrafo brasileiro, a paixão pela fotografia foi aguçada a partir de raízes formadas por meio da indignação que sentia diante da visão estigmatizada que as pessoas possuem com relação aos bairros mais carentes.
O antigo fotógrafo social de eventos festivos, agora apresenta-se como locutor de histórias dentro do seu próprio coletivo. Wallace acredita que a fotografia é uma “ferramenta de transformação social” e, desta forma, traça uma nova identidade e modifica a perspectiva do cenário onde vive.
Foto: Wallace Morais
Representação da foto “O instante decisivo” de Cartier-Bresson
Mikaelly conta como foi a experiência de participar do curso de arquitetura e construir o próprio projeto de reforma do nosso escritório.
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Mikaelly, 16 anos
Mikaelly, 16 anos, é aluna de qualificação do Vozes das Periferias. Em 2019, se formou no curso de Arquitetura e foi convidada, junto com outros 3 colegas de classe, a criar o projeto de reforma do nosso escritório. O espaço passou por uma grande mudança e hoje conseguimos utilizar muito melhor nossas salas.A jovem também realizou outros cursos da área de tecnologia e comunicação, e seu crescimento está sendo muito maior do que o esperado."O Vozes é uma escada para as realizações do meu sonho. Lá eu aprendi que para você vencer tem que ter, acima de tudo, garra".Mika também é voluntária de operações gerais e nos auxilia em nossas atividades de esporte, cultura e qualificação profissional. Sem dúvidas, essa jovem sonhadora ainda vai conquistar o mundo.
Luiz Alberto, 20 anos
Luiz foi aluno do curso de Gestão de Projetos, em parceria com a Comparex, em 2018. A dedicação do jovem durante as aulas o fez estar entre os melhores, concorrendo por uma vaga de emprego na empresa apoiadora."Participar deste curso foi um divisor de águas em minha vida profissional e pessoal, porque lá eu e meus colegas aprendemos muito mais do que as práticas de gestão de projetos, nós aprendemos valores que levaremos para a vida como o #TamoJunto e o #VaiKida".Hoje, Luiz trabalha na SoftwareONE, antiga Comparex, onde cresce a cada dia junto com profissionais qualificados e trilha a sua carreira. Sem dúvidas, essa oportunidade mudou a vida do jovem e abriu diversas portas, transformando sua história e a de sua família.
Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11
Os irmãos Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11, são alunos da oficina de Dança de Rua do Vozes das Periferias e dão um show de talentos.Os b-boys fazem da arte a força para superar qualquer dificuldade e só abaixam a cabeça se for um passo da dança. Eles se dedicam a aprender e a serem melhores a cada dia, desde o hip hip até o passinho do funk. Os meninos ainda se apresentam em locais como a Av. Paulista e estações do metrô, mostrando que a favela é potência e cultura de rua pode chegar onde quiser.
Kayrone, 15 anos
Kayrone, 15 anos, é aluna da oficina de Jiu Jitsu do Vozes das Periferias e voluntária do projeto auxiliando os mais novos durante a aula. Desde o início se mostrou muito interessada e pró-ativa, querendo aprender sempre mais. A princípio seu objetivo era usar o esporte como uma forma de autodefesa, já que os casos de violência contra mulher estão cada vez maiores. Mas com o tempo foi se encantando e trazendo o Jiu Jitsu para vida."O que eu mais gosto no jiu é que independente da sua faixa ou tempo de treino todos se ajudam e crescem juntos".Hoje, Kayrone treina na Academia Nova União SP Mooca, onde ganhou uma bolsa graças a ponta feita pelo atleta e professor Erick Silva.Sua força e garra representa a classe feminina das favelas. Voe alto!