Campo do Sinhá é referência de luta, esporte e lazer na quebrada
Espaço de futebol aos fins de semana, transforma-se no parque de diversões para crianças e guarda histórias de luta e transformação da comunidade
Principal ponto de referência para os visitantes da comunidade, o espaço utilizado hoje para receber partidas de futebol aos fins de semana é uma das únicas áreas de lazer para crianças, adolescentes e jovens. Nos demais dias tem tido a serventia de estacionamento para os automóveis dos moradores da região.
Localizado na Rua Henry Fuseli, que é via de acesso entre o Jardim Grimaldi e a Estrada da Barreira Grande, o espaço é administrado por moradores que datam sua chegada nos anos 70 através de ocupações. Os primeiros moradores do Jardim Dona Sinhá chegaram para ocupar uma área de chácara que estava em desuso com moradias rústicas, a grande maioria de madeira.
Os primeiros habitantes encontraram uma dura realidade, cercada pela falta de saneamento básico, violência e outros diversos desafios. Dona Carmen, moradora da região a cerca de 50 anos, relata os desafios que enfrentou em sua chegada para morar no espaço que viria a ser cercado pelo Campo de Futebol do Jardim Dona Sinhá. "Aqui era tudo mato, tinha até cobra por aqui, que sempre invadia nosso barraco. Não tinha ônibus, então eu tinha que sair cedinho pra ir a pé até o Grimaldi para trabalhar.", relembra Dona Carmen.
Com o crescimento da população, a comunidade foi sofrendo uma transformação, fruto da ação dos novos moradores. Dona Domingas, proprietária de um estabelecimento na beirada do campo, recorda as mudanças que o espaço sofreu através do tempo. "Hoje isso aqui é o paraíso! As crianças brincam, jogam, se divertem. Falta muita coisa ainda, mas não me vejo morando em outro lugar, aqui é minha casa.", diz Domingas.
Dona Carmen enfrentou grandes desafios e vê hoje a comunidade com vida.
Foto de Wallace Morais
Para o senhor Josevaldo Martins, o Jose, o campo é um espaço comunitário de encontro das manifestações culturais do Sinhá.
"Aqui ocorrem shows, campeonatos de futebol, encenações religiosas. O campo é um lugar em que a comunidade se encontra e partilha o que tem de melhor", disse Jose.
Terezinha, religiosa que vive no Jardim Sinhá há 40 anos e ao lado das demais irmãs locais foram pioneiras de trabalhos sociais na região. Para a irmã Terezinha, este espaço é sobretudo lugar de transformação e fraternidade. "No começo dos nossos trabalhos, utilizávamos o campo para reforço escolar e para celebrações. Foi ali que criamos o Centro Educacional Comunitário. Hoje, é espaço de encontro e fraternidade da população de todo o Jardim Sinhá", finaliza a irmã.
O campo, embora tantas vezes criminalizado, é um local que abriga uma importante parte da história do Jardim Dona Sinhá passando por lutas, transformações, resistência e comunhão dos moradores que utilizam de diferentes formas um dos únicos espaços para lazer na comunidade.
Mikaelly conta como foi a experiência de participar do curso de arquitetura e construir o próprio projeto de reforma do nosso escritório.
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Mikaelly, 16 anos
Mikaelly, 16 anos, é aluna de qualificação do Vozes das Periferias. Em 2019, se formou no curso de Arquitetura e foi convidada, junto com outros 3 colegas de classe, a criar o projeto de reforma do nosso escritório. O espaço passou por uma grande mudança e hoje conseguimos utilizar muito melhor nossas salas.A jovem também realizou outros cursos da área de tecnologia e comunicação, e seu crescimento está sendo muito maior do que o esperado."O Vozes é uma escada para as realizações do meu sonho. Lá eu aprendi que para você vencer tem que ter, acima de tudo, garra".Mika também é voluntária de operações gerais e nos auxilia em nossas atividades de esporte, cultura e qualificação profissional. Sem dúvidas, essa jovem sonhadora ainda vai conquistar o mundo.
Luiz Alberto, 20 anos
Luiz foi aluno do curso de Gestão de Projetos, em parceria com a Comparex, em 2018. A dedicação do jovem durante as aulas o fez estar entre os melhores, concorrendo por uma vaga de emprego na empresa apoiadora."Participar deste curso foi um divisor de águas em minha vida profissional e pessoal, porque lá eu e meus colegas aprendemos muito mais do que as práticas de gestão de projetos, nós aprendemos valores que levaremos para a vida como o #TamoJunto e o #VaiKida".Hoje, Luiz trabalha na SoftwareONE, antiga Comparex, onde cresce a cada dia junto com profissionais qualificados e trilha a sua carreira. Sem dúvidas, essa oportunidade mudou a vida do jovem e abriu diversas portas, transformando sua história e a de sua família.
Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11
Os irmãos Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11, são alunos da oficina de Dança de Rua do Vozes das Periferias e dão um show de talentos.Os b-boys fazem da arte a força para superar qualquer dificuldade e só abaixam a cabeça se for um passo da dança. Eles se dedicam a aprender e a serem melhores a cada dia, desde o hip hip até o passinho do funk. Os meninos ainda se apresentam em locais como a Av. Paulista e estações do metrô, mostrando que a favela é potência e cultura de rua pode chegar onde quiser.
Kayrone, 15 anos
Kayrone, 15 anos, é aluna da oficina de Jiu Jitsu do Vozes das Periferias e voluntária do projeto auxiliando os mais novos durante a aula. Desde o início se mostrou muito interessada e pró-ativa, querendo aprender sempre mais. A princípio seu objetivo era usar o esporte como uma forma de autodefesa, já que os casos de violência contra mulher estão cada vez maiores. Mas com o tempo foi se encantando e trazendo o Jiu Jitsu para vida."O que eu mais gosto no jiu é que independente da sua faixa ou tempo de treino todos se ajudam e crescem juntos".Hoje, Kayrone treina na Academia Nova União SP Mooca, onde ganhou uma bolsa graças a ponta feita pelo atleta e professor Erick Silva.Sua força e garra representa a classe feminina das favelas. Voe alto!