10 de outubro de 2018

E lá se vai uma década…

Metrô na Brasilândia "vira lenda" com canteiros de obra largados às traças
Prometida para 2012, a linha 6-laranja do Metrô completou dez anos de seu anúncio na gestão José Serra (PSDB), em 2008, sem sair do papel e dos tapumes que cercam diversos terrenos entre o bairro da Liberdade e a Brasilândia, trecho de 15km que pode contar futuramente com 15 estações. Além disso, as obras que reduziriam o tempo de deslocamento da Zona Norte/Oeste ao Centro de São Paulo estão paralisadas há dois anos e sem prazo de retomada.

O agravante da situação das obras foi a presença de algumas das empresas envolvidas na PPP (Parceria Público Privada) que administraria o Metrô na Operação Lava Jato, como Odebrecht, UTC Engenharia e Queiroz Galvão, investigadas por suspeitas de corrupção. O consórcio Move São Paulo, responsável pela construção, ainda tentou angariar sócios das empresas chinesas China Railway Capital e China Railway First Group, que desistiram do negócio em fevereiro deste ano.

O impasse entre governo e construtoras envolvidas no negócio é grande. Segundo a gestão do atual governador Márcio França (PSB), a situação deve continuar inalterada nos próximos meses até o encerramento do contrato com os parceiros e que a demora se dá por processos abertos na Justiça ao longo das obras. O consórcio, no entanto, afirma que a lentidão é reflexo da omissão do governo em realizar desapropriações e indenizações aos donos dos terrenos demolidos.

Em cifras, a linha 6-laranja rendeu gastos de R$ 1,7 bilhão até agora, sendo 41% desse valor em recursos do governo estadual, além de R$ 984 milhões utilizados para indenizações em decorrência das desapropriações. Os custos por parte do consórcio também são milionários e envolvem o cercado dos terrenos selecionados e a manutenção dos shields (tatuzões) que fariam a perfuração dos túneis – as despesas podem aumentar por conta das multas contratuais aplicadas pelo governo, em valores que já superam a casa dos R$ 100 milhões. O valor total da obra é estimado em R$ 9,6 bi.

As graves consequências ambientais também são vistas por quem passa pelos terrenos destinados às obras. Na área que compreende a estação Brasilândia, o abandono atrai usuários e traficantes de drogas e favorece o descarte ilegal de lixo. O amontoado de dejetos transformou a paisagem da região e, além de invadir calçadas e ruas nos arredores, incentiva a procriação de pragas (ratos e baratas). Além disso, os tapumes podem ser facilmente abertos e sofrem com a degradação do tempo com sol, chuva e vandalismo.
O cercado compreende uma longa extensão da Estrada do Sabão e algumas ruas próximas, como Professor Viveiro Raposo, Padre José Materni, Domingos Francisco Lisboa e Engenheiro Dário Machado de Campos. A estimativa é de que a linha, quando concluída, atenda, em média, 633 mil passageiros por dia.
Mudanças à vista
A partir de junho de 2019, parte das 1.339 linhas de ônibus de São Paulo será alterada ou extinta. A estimativa é de que este número seja reduzido a 1.192, fator que pode dificultar ainda mais o deslocamento das pessoas que residem em regiões afastadas dos centros urbanos.

O estudo, elaborado ainda na gestão de João Doria (PSDB) e coordenado atualmente pela equipe do prefeito Bruno Covas (PSDB), inclui algumas linhas da Brasilândia, que tem o maior contingente populacional da Zona Norte. Segundo dados do Censo demográfico do IBGE de 2010, a região conta com 264.918 habitantes, ficando atrás apenas de Grajaú, Jardim Ângela, Sapopemba, Capão Redondo, Jardim São Luís e Cidade Ademar.

De acordo com a relação publicada pelo Movimento Passe Livre, as linhas 1036-10 (COHAB Brasilândia – Vila Iório), 948A-10 (Vila Zatt – Metrô Barra Funda), 971C-10 (COHAB Brasilândia – Metrô Santana) e 9789-10 (Jardim Paulistano – Metrô Barra Funda), por exemplo, podem deixar de existir.

Já outras, segundo o estudo, podem ser remanejadas. Alguns exemplos são as linhas 975A-10 (Brasilândia – Ana Rosa), 971D-10 (Jardim Damasceno – Shopping Center Norte), 9047-10 (Jardim Paulistano – Lapa) e 9785-10 (Vila Terezinha – Metrô Barra Funda).
"As linhas que passam por aqui são superlotadas há bastante tempo. O Metrô poderia diminuir bastante o problema, mas o que vemos por aqui é total descaso principalmente com quem teve a casa desalojada para as obras. Esse remanejamento dos ônibus pode atrapalhar ainda mais o pessoal daqui", declarou Luiz Felipe da Silva, 20, morador do bairro.
Iniciativas da comunidade
Na contramão dos problemas de locomoção, a Brasilândia, considerada área de risco pelos aplicativos de transporte, tem seu próprio negócio no ramo. Criada pelo motorista e morador do bairro Alvimar da Silva, o Jaubra tem atualmente 13.200 clientes e 50 motoristas cadastrados, todos locais.

Com cerca de 5 mil chamadas por mês em média, o aplicativo fabricado na comunidade tem total aprovação local. As escassas opções noturnas de transporte público fizeram do Jaubra o preferido dos moradores da região. O serviço tem maior pico aos finais de semana com deslocamentos entre trabalhos, baladas, sambódromo e escolas de samba próximas (Mocidade Alegre, Império de Casa Verde, Rosas de Ouro, entre outras).
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