Negros e pardos são 60% da população nas periferias da zona leste
Quase um terço das pessoas se alto declaram afro descendentes e traçam o perfil étnico das periferias da capital paulistana.
60% da população dos territórios de Sapopemba e São Mateus, na zona leste de São Paulo, se autodeclaram negros ou pardos. Esse é mais um índice levantado pela Pesquisa Indicadores de Território realizada pelo CCP Santa Úrsula/Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto e publicada em parceria com o Coletivo Vozes das Periferias em série de reportagens. Desta vez, a pesquisa buscou traçar o perfil étnico da população, importante informação para poder compreender a realidade do território e os grupos mais atingidos pela desigualdade, oferta de oportunidade e preconceito em que as periferias estão inseridas.
Um dos desafios apresentados foi a identificação do perfil étnico em que os entrevistas pertencem. Houve grande dificuldade de assimilação da origem étnica e sua representatividade. Tal fato pode ocorrer pela não difusão do sentido de representatividade na educação básica e grandes meios de comunicação, onde a população negra é tradicionalmente segregada, marginalizada e criminalizada.
Outro fator desafiador é a compreensão que com este índice fica explicito que a população negra sofre com maior intensidade as violência e desigualdades presentes na periferia. Com isso, conseguimos perceber como ainda nos tempos atuais, negros e negras herdam uma cultura de exclusão dos tempos escravistas. Com menos oportunidades em cargos de gerencia no mercado de trabalho, maior parcela da população em situação de desemprego, maioria nos índices de violência contra a mulher, demonstrasse que tais fatos percorreram a história e são reforçados mesmo em dias de como o de hoje, onde a memória de luta e conquista da população negra é celebrada.
Mesmo com avanços em políticas públicas voltadas à assistência do povo negro, como a criminalização do racismo e o sistema de cotas, ainda à muita a avançar no campo da equidade de oportunidade e justiça social. A periferia têm papel importante nesta luta, tendo em vista que seu perfil étnico, construído à partir da exclusão histórica da classe trabalhadora, outrora formada por escravos e que após o processo de abolição se viram segregados de territórios com melhores estruturas, maiores oportunidades e, assim, dando início a ocupação das áreas hoje conhecidas como periféricas.
Todo este contexto nos convida, hoje e em todos momentos de caminhada de luta, celebrarmos a memória de heróis e mártires, unindo-nos às causas dos movimentos em defesa dos direitos da população negra, favela e periférica.
Mikaelly conta como foi a experiência de participar do curso de arquitetura e construir o próprio projeto de reforma do nosso escritório.
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Mikaelly, 16 anos
Mikaelly, 16 anos, é aluna de qualificação do Vozes das Periferias. Em 2019, se formou no curso de Arquitetura e foi convidada, junto com outros 3 colegas de classe, a criar o projeto de reforma do nosso escritório. O espaço passou por uma grande mudança e hoje conseguimos utilizar muito melhor nossas salas.A jovem também realizou outros cursos da área de tecnologia e comunicação, e seu crescimento está sendo muito maior do que o esperado."O Vozes é uma escada para as realizações do meu sonho. Lá eu aprendi que para você vencer tem que ter, acima de tudo, garra".Mika também é voluntária de operações gerais e nos auxilia em nossas atividades de esporte, cultura e qualificação profissional. Sem dúvidas, essa jovem sonhadora ainda vai conquistar o mundo.
Luiz Alberto, 20 anos
Luiz foi aluno do curso de Gestão de Projetos, em parceria com a Comparex, em 2018. A dedicação do jovem durante as aulas o fez estar entre os melhores, concorrendo por uma vaga de emprego na empresa apoiadora."Participar deste curso foi um divisor de águas em minha vida profissional e pessoal, porque lá eu e meus colegas aprendemos muito mais do que as práticas de gestão de projetos, nós aprendemos valores que levaremos para a vida como o #TamoJunto e o #VaiKida".Hoje, Luiz trabalha na SoftwareONE, antiga Comparex, onde cresce a cada dia junto com profissionais qualificados e trilha a sua carreira. Sem dúvidas, essa oportunidade mudou a vida do jovem e abriu diversas portas, transformando sua história e a de sua família.
Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11
Os irmãos Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11, são alunos da oficina de Dança de Rua do Vozes das Periferias e dão um show de talentos.Os b-boys fazem da arte a força para superar qualquer dificuldade e só abaixam a cabeça se for um passo da dança. Eles se dedicam a aprender e a serem melhores a cada dia, desde o hip hip até o passinho do funk. Os meninos ainda se apresentam em locais como a Av. Paulista e estações do metrô, mostrando que a favela é potência e cultura de rua pode chegar onde quiser.
Kayrone, 15 anos
Kayrone, 15 anos, é aluna da oficina de Jiu Jitsu do Vozes das Periferias e voluntária do projeto auxiliando os mais novos durante a aula. Desde o início se mostrou muito interessada e pró-ativa, querendo aprender sempre mais. A princípio seu objetivo era usar o esporte como uma forma de autodefesa, já que os casos de violência contra mulher estão cada vez maiores. Mas com o tempo foi se encantando e trazendo o Jiu Jitsu para vida."O que eu mais gosto no jiu é que independente da sua faixa ou tempo de treino todos se ajudam e crescem juntos".Hoje, Kayrone treina na Academia Nova União SP Mooca, onde ganhou uma bolsa graças a ponta feita pelo atleta e professor Erick Silva.Sua força e garra representa a classe feminina das favelas. Voe alto!