Há muitos anos uma legião de pessoas, organizadores e líderes sociais invocam o tema das potências faveladas, que em 2020 mantém o Brasil de pé
Em 2013, ano em que criei o Vozes das Periferias, eu não imaginava e nem sabia ao certo o quanto as favelas da Vila Prudente mostrariam ao longo dos anos que inteligência e tecnologia são itens consolidados aqui. Fui percebendo isso durante a caminhada, nas trocas e em tantas oportunidades que o Vozes me levou. Tanto que encarnei o “favela é potência” por ver e viver isso todos os dias dos últimos anos.
Em 2020 em meio a pandemia que estamos vivendo muito se esperou das esferas governamentais e pro tamanho de seu poder pouquíssimo foi visto. Neste mesmo período, no contraste, líderes sociais de favelas mostraram tamanha potência e organização que conciliaram a ajuda necessária para milhões de famílias em todas as partes do país ao giro de capital no país. Literalmente sustentaram e fizeram a máquina econômica do Brasil girar para não parar com o atraso do funcionalismo público.
Entre os talentos, neste time jogaram empreendedores sociais como Rene Silva e Raull Santiago, ambos do Complexo do Alemão, criando e apontando a direção da ajuda humanitária por lá no Gabinete de Crise do Alemão. Carlos Jorge, em Maceió, que caminhou dezenas de quilômetros antes de qualquer ato governamental em Vergel e levou milhares de reais com apoio da Rede Gerando Falcões para a mesa de famílias em extrema vulnerabilidade. E a figura que abriu as portas, ensinou e ensina líderes sociais, Celso Athayde, da CUFA, que já beneficiou mais de 1 milhão de famílias em diferentes regiões de todo o país.
Estes são alguns dos líderes que não brigaram por x ou y, eles brigaram pelo que todos nós brasileiros deveríamos ter brigado: por renda, dignidade, saúde e alimentação para as pessoas que mais precisam neste país. Outros tantos também trabalham continuamente com as comunidades, na base, e neste período pandêmico não fugiram da luta ou tentaram construir foco em grupo político x, ou y, ou ainda em pautas não importantes neste momento.
Embora todos elas e eles espalhados pelo Brasilzão, dois itens estavam em todas as operações que estes líderes organizaram: capacidade logística e operacional e também transparência e gestão. O povo preto, pobre, favelado e periférico potente e mantendo o Brasil de pé mesmo em meio a tragédia mais avassaladora do planeta das últimas décadas.
Este é o Brasil de verdade, vindo da favela e das periferias as potências, tecnologias e organizações que inovam e salvam milhões de brasileiras e brasileiros. Por isso e muito mais: lembre-se de todas e todos quando a pandemia acabar, lembre-se dos que estão fazendo e ajudando famílias sem perguntar pra quem você votou na eleição anterior ou tentando te ensinar como fazer ou ser.
Cesar Gouveia é fundador e CEO do Vozes das Periferias e agência #TAMOJUNTO. Jornalista e empreendedor social que já impactou mais de 6 mil famílias com educação, cultura, esporte, qualificação profissional e alimentação. Cesar também é palestrante e já levou seu trabalho é potência a famílias brasileiras em Nova York.
Mikaelly conta como foi a experiência de participar do curso de arquitetura e construir o próprio projeto de reforma do nosso escritório.
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Mikaelly, 16 anos
Mikaelly, 16 anos, é aluna de qualificação do Vozes das Periferias. Em 2019, se formou no curso de Arquitetura e foi convidada, junto com outros 3 colegas de classe, a criar o projeto de reforma do nosso escritório. O espaço passou por uma grande mudança e hoje conseguimos utilizar muito melhor nossas salas.A jovem também realizou outros cursos da área de tecnologia e comunicação, e seu crescimento está sendo muito maior do que o esperado."O Vozes é uma escada para as realizações do meu sonho. Lá eu aprendi que para você vencer tem que ter, acima de tudo, garra".Mika também é voluntária de operações gerais e nos auxilia em nossas atividades de esporte, cultura e qualificação profissional. Sem dúvidas, essa jovem sonhadora ainda vai conquistar o mundo.
Luiz Alberto, 20 anos
Luiz foi aluno do curso de Gestão de Projetos, em parceria com a Comparex, em 2018. A dedicação do jovem durante as aulas o fez estar entre os melhores, concorrendo por uma vaga de emprego na empresa apoiadora."Participar deste curso foi um divisor de águas em minha vida profissional e pessoal, porque lá eu e meus colegas aprendemos muito mais do que as práticas de gestão de projetos, nós aprendemos valores que levaremos para a vida como o #TamoJunto e o #VaiKida".Hoje, Luiz trabalha na SoftwareONE, antiga Comparex, onde cresce a cada dia junto com profissionais qualificados e trilha a sua carreira. Sem dúvidas, essa oportunidade mudou a vida do jovem e abriu diversas portas, transformando sua história e a de sua família.
Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11
Os irmãos Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11, são alunos da oficina de Dança de Rua do Vozes das Periferias e dão um show de talentos.Os b-boys fazem da arte a força para superar qualquer dificuldade e só abaixam a cabeça se for um passo da dança. Eles se dedicam a aprender e a serem melhores a cada dia, desde o hip hip até o passinho do funk. Os meninos ainda se apresentam em locais como a Av. Paulista e estações do metrô, mostrando que a favela é potência e cultura de rua pode chegar onde quiser.
Kayrone, 15 anos
Kayrone, 15 anos, é aluna da oficina de Jiu Jitsu do Vozes das Periferias e voluntária do projeto auxiliando os mais novos durante a aula. Desde o início se mostrou muito interessada e pró-ativa, querendo aprender sempre mais. A princípio seu objetivo era usar o esporte como uma forma de autodefesa, já que os casos de violência contra mulher estão cada vez maiores. Mas com o tempo foi se encantando e trazendo o Jiu Jitsu para vida."O que eu mais gosto no jiu é que independente da sua faixa ou tempo de treino todos se ajudam e crescem juntos".Hoje, Kayrone treina na Academia Nova União SP Mooca, onde ganhou uma bolsa graças a ponta feita pelo atleta e professor Erick Silva.Sua força e garra representa a classe feminina das favelas. Voe alto!