POSTADO POR CESAR GOUVEIA | VL. PRUDENTE 25/01/2021
Favela da Vila Prudente tem sua primeira pessoa vacinada
No último domingo a enfermeira Kedman Pereira, 37, recebeu a vacina contra a COVID-19. Ela foi da linha de frente de um hospital da rede privada e também foi uma das pessoas contaminadas pelo vírus, em abril passado.
Nossa equipe conversou com a enfermeira e você pode conferir agora a entrevista.
VOZES: Como foi trabalhar todo esse período de pandemia na linha de frente? KEDMAN: Foi um período de muito aprendizado, evoluí muito como profissional e principalmente como ser humano. Não é fácil ver pessoas partindo sem poder se despedir dos familiares, sem ter o aconchego de um abraço ou o conforto de palavras vindas de alguém conhecido. Foi muito difícil ver o olhar de desespero de quem tinha piora no quadro, sentir aquele apertar de mão pedindo para não deixá-lo(a) morrer. Os mais jovens ainda conseguiam se comunicar pelos aplicativos de celular, mas a grande maioria dos idosos mal conseguiam atender uma ligação.
Engolir o choro e tentar passar confiança não é fácil. Mas também tive momentos em que o choro foi de emoção, ao acompanhar o paciente de alta e vê-lo reencontrar a família após uma grande batalha.
Atualmente não estou em um andar referência do COVID-19, porém recebemos muitos que passaram por essa batalha e retornaram com sequelas, onde cada dia é um desafio. Desafio não só físico, mas principalmente mental, porque a solidão que é vivida durante essa doença maltrata demais.
V: Você pegou COVID? K: Peguei em abril.
Momento da vacinação. Fonte: arquivo pessoal.
V: Como foi este período? K: Foi um período de muito medo e insegurança, onde além de lutar pela cura do corpo também lutei conta a depressão, porque para mim ficar sem poder abraçar e beijar os que amo foi bem pior do que o cansaço e dores no corpo. Ver minha mãe com os olhos cheios de lágrimas e medo, querendo entrar na minha casa para cuidar de mim foi muito difícil. Instinto maternal é assim, coloca a própria vida em risco para cuidar do filho. Olhar meu pai só pela janela e dar ‘tchauzinho’ para ele saber que eu estava bem.... E a minha filha que teve que se isolar comigo e manter distância ao mesmo tempo, ficar sem o abraço dela era como levar um soco todo dia.
V. Você estava ansiosa pela vacina? K: Muito ansiosa, a vacina nos deu esperança de que as coisas podem voltar ao normal.
V. Como você se sente sendo uma das primeiras pessoas vacinadas da Favela da Vila Prudente? K: Me sinto privilegiada e orgulhosa por fazer parte dessa luta histórica. E tenho fé que em breve todos estarão vacinados também.
V. Você sentiu algo após tomar a vacina? K: Fisicamente não tive nenhuma reação, emocionalmente senti as esperanças se renovarem.
V. O que você diria para as pessoas que ainda não tem confiança na vacina contra a COVID? K: Com a vacina da H1N1 também houve esse preconceito, esse medo, e olha quantas vidas foram e são poupadas hoje em dia. O medo do novo sempre vai existir. Vejo as pessoas reclamando que só tem 50% de eficácia, mas será que já pararam para pensar o quanto é 50% Quando um paciente recebe um diagnóstico em que o médico fala que ele tem 1% de chance de sobreviver, esse paciente se apega a esse 1% e esquece dos 99% de risco que tem. Então imagina 50%. Eu quero ver os que amo bem, quero poder abraçar apertado, andar livremente sem máscara, e isso só será possível se estivermos imunizados, tenho a consciência tranquila que estou fazendo minha parte, faça você também a sua!
Mikaelly conta como foi a experiência de participar do curso de arquitetura e construir o próprio projeto de reforma do nosso escritório.
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Mikaelly, 16 anos
Mikaelly, 16 anos, é aluna de qualificação do Vozes das Periferias. Em 2019, se formou no curso de Arquitetura e foi convidada, junto com outros 3 colegas de classe, a criar o projeto de reforma do nosso escritório. O espaço passou por uma grande mudança e hoje conseguimos utilizar muito melhor nossas salas.A jovem também realizou outros cursos da área de tecnologia e comunicação, e seu crescimento está sendo muito maior do que o esperado."O Vozes é uma escada para as realizações do meu sonho. Lá eu aprendi que para você vencer tem que ter, acima de tudo, garra".Mika também é voluntária de operações gerais e nos auxilia em nossas atividades de esporte, cultura e qualificação profissional. Sem dúvidas, essa jovem sonhadora ainda vai conquistar o mundo.
Luiz Alberto, 20 anos
Luiz foi aluno do curso de Gestão de Projetos, em parceria com a Comparex, em 2018. A dedicação do jovem durante as aulas o fez estar entre os melhores, concorrendo por uma vaga de emprego na empresa apoiadora."Participar deste curso foi um divisor de águas em minha vida profissional e pessoal, porque lá eu e meus colegas aprendemos muito mais do que as práticas de gestão de projetos, nós aprendemos valores que levaremos para a vida como o #TamoJunto e o #VaiKida".Hoje, Luiz trabalha na SoftwareONE, antiga Comparex, onde cresce a cada dia junto com profissionais qualificados e trilha a sua carreira. Sem dúvidas, essa oportunidade mudou a vida do jovem e abriu diversas portas, transformando sua história e a de sua família.
Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11
Os irmãos Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11, são alunos da oficina de Dança de Rua do Vozes das Periferias e dão um show de talentos.Os b-boys fazem da arte a força para superar qualquer dificuldade e só abaixam a cabeça se for um passo da dança. Eles se dedicam a aprender e a serem melhores a cada dia, desde o hip hip até o passinho do funk. Os meninos ainda se apresentam em locais como a Av. Paulista e estações do metrô, mostrando que a favela é potência e cultura de rua pode chegar onde quiser.
Kayrone, 15 anos
Kayrone, 15 anos, é aluna da oficina de Jiu Jitsu do Vozes das Periferias e voluntária do projeto auxiliando os mais novos durante a aula. Desde o início se mostrou muito interessada e pró-ativa, querendo aprender sempre mais. A princípio seu objetivo era usar o esporte como uma forma de autodefesa, já que os casos de violência contra mulher estão cada vez maiores. Mas com o tempo foi se encantando e trazendo o Jiu Jitsu para vida."O que eu mais gosto no jiu é que independente da sua faixa ou tempo de treino todos se ajudam e crescem juntos".Hoje, Kayrone treina na Academia Nova União SP Mooca, onde ganhou uma bolsa graças a ponta feita pelo atleta e professor Erick Silva.Sua força e garra representa a classe feminina das favelas. Voe alto!