Produtor musical expõe realidade periférica em suas composições.
Murilo Oliveira conta como foi a sua trajetória no mundo na musica e favela
Nascido e criado na Praia Grande, Litoral Sul de SP, Murilo Oliveira, 25, mais conhecido como Mu540, conta um pouco da sua experiência com a música dentro da favela e deixa uma mensagem para os jovens que sonham em viver da arte.
“Nasci e cresci na Baixada Santista, e lembro de ver o Kljay tocando no VMB na MTV, em 1997 quando eu era criança. Ele estava lá soltando um som de um lugar que eu desconhecia, só sei que era uma caixa com uma bola no meio e que saia som e essa era a minha concepção! Lembro que a minha mãe tinha em casa um negócio quadrado com uma bola no meio que também saía som, e pensei "olha só, vou fazer igual ao carinha que vi na TV" e taquei a mão no disco. risquei o CD todo. Sempre gostei de música e a minha mãe curtia muito flash-back, eu batia nas panelas e ficava brisando.”.
Apesar de crescer dentro da música e ter como referência os DJs da favela onde mora, Mu540 nunca pensou em fazer com que isso se tornasse a sua profissão. Tanto que, em um momento da sua pré-adolescência pensou em ser cardiologista, e depois engenheiro. Mas, foram só pensamentos momentâneos, e desde cedo começou a desenvolver as suas habilidades dentro da música, conta: “Aos 14 anos de idade, comecei a produzir músicas dos amigos da escola e MCs que moravam no morro. Com 16 anos fiz a primeira festa misturando os hits do Funk com Eletrônica do momento e também toquei em uma Feira Cultural da Consciência Negra numa escola infantil. As criancinhas juntaram um dinheirinho e me contrataram pra tocar na festa da escola, toquei várias músicas afro e foi muito da hora. Depois disso não parei mais!”.
Murilo Oliveira Mu540
Músico lança o EP "Música Popular Favelada, Vol.01"
“As crianças do morro são desmotivadas pela própria sociedade que não deixa elas sonharem”
Mu540 sempre produziu músicas de artistas da cena do Funk e Rap Nacional, em 2018 lançou o seu primeiro EP intitulado “Música Popular Favelada, Vol. 01” trazendo a sua identidade artística e além de tocar em festas, também realiza ações sociais para os jovens das periferias da Praia Grande. “Atualmente participo do Projeto Favela Records, onde produzimos clipes e músicas para artistas da favela.”, afirma Mu540. “As crianças do morro são desmotivadas pela própria sociedade que não deixa elas sonharem.”, afirma o produtor deixando a mensagem para os jovens de periferia que sonham em viver da arte e, em especial, da música.
“Na visão da sociedade você tem que estudar, sair do oitavo ano, trabalhar e viver até onde dá. Eles tem que ter referência, aprender com os erros e exemplos ruins para seguir sempre pelo melhor caminho. Cultura pra mim é exercer a sua existência em primeiro lugar, e a visão que eu quero passar para esses jovens que sonham em viver da arte é estudar mano, estudar! Não usem drogas, respeitem as suas mães e vão estudar! Vivam cada momento da suas vidas, foque nos seus objetivos, juntem o pé de meia e não deixem de estudar. O mundo tá ficando cada vez pior e se a gente não mudar a educação das pessoas o mundo vai ruir. A gente tem que ser um milhão de vezes melhor que os boys.”.
Mikaelly conta como foi a experiência de participar do curso de arquitetura e construir o próprio projeto de reforma do nosso escritório.
Saiba mais
Mikaelly, 16 anos
Mikaelly, 16 anos, é aluna de qualificação do Vozes das Periferias. Em 2019, se formou no curso de Arquitetura e foi convidada, junto com outros 3 colegas de classe, a criar o projeto de reforma do nosso escritório. O espaço passou por uma grande mudança e hoje conseguimos utilizar muito melhor nossas salas.A jovem também realizou outros cursos da área de tecnologia e comunicação, e seu crescimento está sendo muito maior do que o esperado."O Vozes é uma escada para as realizações do meu sonho. Lá eu aprendi que para você vencer tem que ter, acima de tudo, garra".Mika também é voluntária de operações gerais e nos auxilia em nossas atividades de esporte, cultura e qualificação profissional. Sem dúvidas, essa jovem sonhadora ainda vai conquistar o mundo.
Luiz Alberto, 20 anos
Luiz foi aluno do curso de Gestão de Projetos, em parceria com a Comparex, em 2018. A dedicação do jovem durante as aulas o fez estar entre os melhores, concorrendo por uma vaga de emprego na empresa apoiadora."Participar deste curso foi um divisor de águas em minha vida profissional e pessoal, porque lá eu e meus colegas aprendemos muito mais do que as práticas de gestão de projetos, nós aprendemos valores que levaremos para a vida como o #TamoJunto e o #VaiKida".Hoje, Luiz trabalha na SoftwareONE, antiga Comparex, onde cresce a cada dia junto com profissionais qualificados e trilha a sua carreira. Sem dúvidas, essa oportunidade mudou a vida do jovem e abriu diversas portas, transformando sua história e a de sua família.
Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11
Os irmãos Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11, são alunos da oficina de Dança de Rua do Vozes das Periferias e dão um show de talentos.Os b-boys fazem da arte a força para superar qualquer dificuldade e só abaixam a cabeça se for um passo da dança. Eles se dedicam a aprender e a serem melhores a cada dia, desde o hip hip até o passinho do funk. Os meninos ainda se apresentam em locais como a Av. Paulista e estações do metrô, mostrando que a favela é potência e cultura de rua pode chegar onde quiser.
Kayrone, 15 anos
Kayrone, 15 anos, é aluna da oficina de Jiu Jitsu do Vozes das Periferias e voluntária do projeto auxiliando os mais novos durante a aula. Desde o início se mostrou muito interessada e pró-ativa, querendo aprender sempre mais. A princípio seu objetivo era usar o esporte como uma forma de autodefesa, já que os casos de violência contra mulher estão cada vez maiores. Mas com o tempo foi se encantando e trazendo o Jiu Jitsu para vida."O que eu mais gosto no jiu é que independente da sua faixa ou tempo de treino todos se ajudam e crescem juntos".Hoje, Kayrone treina na Academia Nova União SP Mooca, onde ganhou uma bolsa graças a ponta feita pelo atleta e professor Erick Silva.Sua força e garra representa a classe feminina das favelas. Voe alto!