Eu estava refletindo sobre tudo que já foi feito pelo nosso trabalho e a nossa influência. São tantas lutas. Tantas conquistas. Tantas vidas transformadas e tantos impactados. E nessa história, você é parte transformadora
Hoje eu vi que realmente eu não sabia o que eu estava fazendo ou o que era que nós iríamos fazer. No início, o despertar das minhas próprias potencias nem eram tão grandes assim. Eu só queria respostas e não ver a minha família perder a casa que tanto trabalhamos para ter. E olha no que deu. Um sonho do qual me privaram tanto hoje é uma realidade que impacta milhares de vidas onde eu nasci e onde eu piso meus pés hoje. Estamos hoje fazendo o que precisa, mas sem esquecer de olhar para o futuro e colocar as pessoas no centro de nossas ações. Estamos colocando a favela no lugar de destaque. Os nossos talentos e as nossas capacidades a favor de quem mais precisa.
Os últimos 3 anos do Vozes, como vocês devem saber, foram de muitas lutas. No dia em que inaugurávamos a parceria com a Rede Gerando Falcões, durante a madrugada, duas pessoas da favela da Vila Prudente foram assassinadas pelo Estado com seu braço armado. Confesso que senti diversas sensações, entre elas raiva por ter mais dois colegas com suas vidas ceifadas. Depois disso, enfrentamos a falta de espaço para realizar nossas atividades da DisneyFavela, uma enchente que devastou 90% das casas na favela da Vila Prudente e nem tão distante assim, em 2020, uma pandemia. Com toda a sinceridade, o maior deles. Eu já vi muita coisa acontecer e enfrentei desafios grandes. Vencer a fome, a desinformação e evitar o caos humanitário em 2020 foi o maior deles. Naquele ano, salvamos mais de 48 mil pessoas. Não foi fácil, mas nós estávamos fazendo o que era necessário e foi por isso que não nos acovardamos diante de cada um dos desafios.
Já pensei em desistir, não vou negar. E muitas dessas vezes sequer time o Vozes possuía. Lá no início, nem computador para escrever as insatisfações da favela ou as muitas vezes de abusos policiais tínhamos. Eu usava o computador de um antigo trabalho.
A gente ainda está longe de acabar com a desigualdade de acesso às oportunidades. Mas eu sei que vamos chegar lá. Pode ser que eu não veja, nós não vejamos, mas a geração que estamos preparando verá. E é por isso que é fundamental cada pessoa que trabalha e apoia o Vozes das Periferias. A gente não faz o que fazemos para satisfazer a nós mesmos. Nós poderíamos, com os nossos talentos, estar fazendo qualquer outra coisa da vida.
Não há nenhum nome para designar o que estamos criando e desenvolvendo. O que a gente faz é levantar para cumprir uma única missão: salvar vidas. Sejam elas da Vila Prudente ou do Sinhá. Agora, mesmo ao escrever esse texto, estamos abrindo um mundo de acesso milhares de vezes negado às famílias, crianças e aos jovens da favela. Estamos influenciando a fazer o bem.
Nós somos a parte transformadora. Somos tão importantes para o Brasil quanto o Obama é para os Estados Unidos. Lá, muita gente não reconhece o que o Obama fez, mas o tempo está mostrando e mesmo sem o reconhecimento em maioria ele fez o que era preciso ser feito. E aqui a gente tem muito por fazer ainda.
Hoje mais uma vez eu tenho a certeza de que vamos entregar a nossa missão. Temos tudo. Capacidade, talento e o maior recurso do mundo: nós mesmos. Como disse o mestre do Mamba Mentality, Kobe Bryant: “Eu vou fazer o que for necessário para vencer as partidas. Seja no banco agitando uma toalha, seja entregando água a um companheiro ou acertando o lançamento vencedor.” Esse é o sentimento.
Parabéns ao Vozes das Periferias e a todos nós pelos 8 anos de transformação e democratização do acesso para as crianças, jovens e as famílias das favelas. Obrigado ao nosso time, aos nossos padrinhos e madrinhas, à Rede Gerando Falcões e a cada voluntário, família, parceiros e parceiras que nos inspiram a continuar e transformar.
Mikaelly conta como foi a experiência de participar do curso de arquitetura e construir o próprio projeto de reforma do nosso escritório.
Saiba mais
Mikaelly, 16 anos
Mikaelly, 16 anos, é aluna de qualificação do Vozes das Periferias. Em 2019, se formou no curso de Arquitetura e foi convidada, junto com outros 3 colegas de classe, a criar o projeto de reforma do nosso escritório. O espaço passou por uma grande mudança e hoje conseguimos utilizar muito melhor nossas salas.A jovem também realizou outros cursos da área de tecnologia e comunicação, e seu crescimento está sendo muito maior do que o esperado."O Vozes é uma escada para as realizações do meu sonho. Lá eu aprendi que para você vencer tem que ter, acima de tudo, garra".Mika também é voluntária de operações gerais e nos auxilia em nossas atividades de esporte, cultura e qualificação profissional. Sem dúvidas, essa jovem sonhadora ainda vai conquistar o mundo.
Luiz Alberto, 20 anos
Luiz foi aluno do curso de Gestão de Projetos, em parceria com a Comparex, em 2018. A dedicação do jovem durante as aulas o fez estar entre os melhores, concorrendo por uma vaga de emprego na empresa apoiadora."Participar deste curso foi um divisor de águas em minha vida profissional e pessoal, porque lá eu e meus colegas aprendemos muito mais do que as práticas de gestão de projetos, nós aprendemos valores que levaremos para a vida como o #TamoJunto e o #VaiKida".Hoje, Luiz trabalha na SoftwareONE, antiga Comparex, onde cresce a cada dia junto com profissionais qualificados e trilha a sua carreira. Sem dúvidas, essa oportunidade mudou a vida do jovem e abriu diversas portas, transformando sua história e a de sua família.
Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11
Os irmãos Kelvin, 8 anos, e Kelveson, 11, são alunos da oficina de Dança de Rua do Vozes das Periferias e dão um show de talentos.Os b-boys fazem da arte a força para superar qualquer dificuldade e só abaixam a cabeça se for um passo da dança. Eles se dedicam a aprender e a serem melhores a cada dia, desde o hip hip até o passinho do funk. Os meninos ainda se apresentam em locais como a Av. Paulista e estações do metrô, mostrando que a favela é potência e cultura de rua pode chegar onde quiser.
Kayrone, 15 anos
Kayrone, 15 anos, é aluna da oficina de Jiu Jitsu do Vozes das Periferias e voluntária do projeto auxiliando os mais novos durante a aula. Desde o início se mostrou muito interessada e pró-ativa, querendo aprender sempre mais. A princípio seu objetivo era usar o esporte como uma forma de autodefesa, já que os casos de violência contra mulher estão cada vez maiores. Mas com o tempo foi se encantando e trazendo o Jiu Jitsu para vida."O que eu mais gosto no jiu é que independente da sua faixa ou tempo de treino todos se ajudam e crescem juntos".Hoje, Kayrone treina na Academia Nova União SP Mooca, onde ganhou uma bolsa graças a ponta feita pelo atleta e professor Erick Silva.Sua força e garra representa a classe feminina das favelas. Voe alto!